O porquê de Fragmentário


Um diário é um conjunto de apontamentos que se apontam dia a dia - desses não tenho, por isso não escrevo diários -, de soluços aos solavancos, fruto das horas mortas e dos momentos inadequados do não sentir. Por isso, “Fragmentário”. Onde o navio? Sem navio...



quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Arlequim

Não sei se já reparou, menina, mas estou-lhe a escrever do futuro. É que não posso escrever-lhe do passado senão o seu marido ainda me trama mais um pouco!
Faz hoje anos? Anos do futuro que não teremos, que não do passado que já tivemos. Que futuro para nós e onde???
E que futuro terias tu sem mim quando batesses às portas da percepção?
Bem sei que muito lamentas a falta do meu existir perto de ti porque te faço falta na infelicidade do teu sentir. Dói assim tanto?
Há escolhas que nos saem bem quando somos novos, calculismos à parte) mas há outras que nunca faríamos se soubessemos como avançaria a vida. Ainda te escondes nas praias alentejanas no fim do Verão?
O patareco do teu marido anda lá por Bruxelas mas tu, bem o sei, nem sabes nem queres saber. Foi culpa da tua mãe. Pois foi e então??? Ninguém te obrigou a assinar!!!
Saudades de há muitos anos atrás! Muitas saudades!!! Essas eu sei que tens.
Saudades da Graçita de Odemira! Foi lá que andastes no liceu?; Saudades da triangulação que ficou por fazer!!!
E dos jantares tardios nos resturantes baratos por perto do campus à cidade unioversitária, lembras-te?
É tudo ao contrário agora mas a verdade ainda há-de vir ao de cima!!!
Vives agora no limbo da decadência dos sentimentos, qual trapezista que perdeu o pé, já antevendo a mortal queda por falta de rede no trapézio!
Já me perguntei muitas vezes e sem mo dizeres alcancei a resposta que guardo para mim e que nunca te direi.
Tudo se esquece com o tempo mas só enquanto houver memória!!!
Diz olá à borboleta tonta, diz bom dia ao triste Arlequim abandonado.