O porquê de Fragmentário


Um diário é um conjunto de apontamentos que se apontam dia a dia - desses não tenho, por isso não escrevo diários -, de soluços aos solavancos, fruto das horas mortas e dos momentos inadequados do não sentir. Por isso, “Fragmentário”. Onde o navio? Sem navio...



quarta-feira, 25 de junho de 2008

depois de Agosto

Ancorado na praia deserta desta ilha, abandonada ilha, aqui estou eu, cheio de fome e de sede, febril e visionário, desesperado e louco, completamente alucinado pelos gritos lancinantes das também esgazeadas gaivotas.
Fecho os olhos de doridos, sinto os tímpanos estoirar e como se em transe sou invadido por uma luz suave e calma vinda do fundo do mar. Vinda do mar em espiral para o firmamento com vistas das janelas para dentro! Turbilhão de imagens desordenadamente à solta na minha visão demente vêm ter comigo, navegam comigo, entram e saiem na minha percepção de alquimista atarefado, fervilham em provetas de experiências falhadas de há muito tentadas por cientistas sagazes que também deram em loucos. Tudo experimentado à sorte, sem qualquer lógica ou método, brumas de pesadelos envolvendo os sonhos e desordenando a mente. Noites de estrelas mil, mais brilhantes que diamantes e sussurros ao ouvido de linguagens trazidas pelas aragens prenúncio de muitos e maus ventos. Onde agora os monotonos e monocórdicos sons das cigarras e dos grilos? onde as conversas sem fim das quentes noites de Agosto quando evocando o luar eramos inundados e atravessados por palavras belas, palavras mil, palavras vãs, transmissoras de mensagens que se é verdade que pareciam reais já em si carreavam os prelúdios de um breve fim? Onde a lucidez desta gente???

sábado, 21 de junho de 2008

Foi porque tinha que ser...

Inevitavelmente fui. Às tantas, nem sei porquê, mas fui.
Fui ter contigo, fui ter contigo a tua casa, fui. Às tantas...
Às tantas fui ter contigo à Lagoa do Gerês e lá estvas tu nua e quente ardendo na água fria quase a ferver;
Às tantas fui contigo a Coimbra (queima das fitas a quanto obrigas) era Maio e nem o Mondego conseguimos ver;
Às tantas foi nas Berlengas, estavas esfomeada e foi tal a guerra que a tenda começou a arder;
Às tantas foi em Lisboa, Rua Palmira aos Anjos e a tua amiga a nem querer ver;
Às tantas também foi em Odemira, o teu pai tinha ido de férias e foi o que tinha que ser;
Às tantas também fui à Amadora e só me lembro que me fizeste sofrer;
Às tantas fui, às tantas foi. Às tantas...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Espreitando o Verão

Decidido. Hoje vou à praia. Vou logo depois do almoço, o sol ainda não queima. Fonte da Telha ou Guincho? A decidir quando já a caminho.
Do Terreiro do Trigo ao Terreiro do Paço é um pulinho. Estaciono junto á casa dos Bicos. Vou a pé até ao Martinho e debaixo da Arcada, sento-me por momentos. Pessoas a correr de e para o Cais das Colunas. Gente de trbalho da margem sul na labuta.
E eu? Vou mesmo á praia ou fico aqui a namorar Pessoa no retrato enquanto tento que alguma coisa me saia?
Ó, no tempo em que eu também tinha pressa! Esse tempo passou tão depressa. Agora a minha pressa é não ter pressa nenhuma, simplesmente continuar à espera que o tempo passe, sem pressa.
Eu para o meu alter ego, Nasser Lopes: Não vivo, passo pela vida.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Praça Maior

Pedintes e vadios dormem na rua
Frias arcadas feitas lençóis de linho.