O porquê de Fragmentário


Um diário é um conjunto de apontamentos que se apontam dia a dia - desses não tenho, por isso não escrevo diários -, de soluços aos solavancos, fruto das horas mortas e dos momentos inadequados do não sentir. Por isso, “Fragmentário”. Onde o navio? Sem navio...



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

S. Gonçalo de Amarante

Numa escolha aleatória fui parar a Amarante, inicio de carreira nos tribunais. Aos pés o Porto, à cabeça o Marão. Subimos a Serra e demos com ela. S. Gonçalo, a Pousada. "Se fizermos um filho havemos de chamar-lhe Gonçalo em honra do santo" Não fizemos, não lhe chamámos.
Paraste o carro no parque vazio e dirigimo-nos à recepção. O granito trabalhado da fachada e o rendilhado de cal branca subindo pelas paredes; O vermelho das tijoleiras envernizadas nas arcadas e o ocre das telhas luzidias no telhado.
Reza a história que a Pousada foi, noutros tempos,uma ermida de uma antiga ordem religiosa. Chamaram-lhe de S. Gonçalo em honra ao Santo casamenteiro residente na cidade de Amarante. Hoje faz jus ao laicismo pois nem é Domingo e nem sinais do sino a chamar para a missa. Altivo o sino e bem falante. Em dias de nevoeiro, que bem os havia, o seu eco despenhava-se pela encosta e ia morrer no adro da Igreja.
Pobres dos sinos, já não chamam, e se chamassem, quem os ouviria? Até os pináculos da torre da capela coram de vergonha pois espetaram-lhes com um cata-vento em cima.
ò deus das intempéries, ò oráculos das fúrias do vento e inimigos do bom tempo, vinde sobre nós, soterrai-nos aqui para sempre!

Entrámos e a recepcionista, sorridente e cúmplice, depois das boas vindas foi mostrar-nos o quarto.
- Podem escolher, esta noite a Pousada fica por vossa conta.
Gostei tanto de ti nessa noite que te incentivei a reservar um quarto para as férias do Carnaval que estavam próximas. Assim fizeste.

Os cães não fizeram o milagre e o cordeiro foi, uma vez mais,sacrificado.

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